mortirAugust 24th 1991 (Age 29) Male
telefone alimentado a madeira
Assuntos mecânicos concêntricos adormecem as
memórias, confirmam a melancolia.
Encontraram-no fora da voz, louco de
insígnias. Faltam unhas.
Carne mastigada, estilhaços,
janelas sem ângulos, honestas de
sangue...
O propósito obscuro,
conta-nos, vertebral, o útero
das coisas queimadas amolece das
órbitas.
Sopram por dentro
encaixam mortos nos lugares efémeros.
Acreditam, veementes, nos assuntos
imaculados. Velcro nos olhos ovíparos omnívoros.
Sente-se ferrugem antiga
nos lábios cansados de mortes,
sente-se cromatina no périplo.
E eu, afónico, resto de
tudo, hoje, louco, aqui me
espero de ontem, aqui me
torno a flor de lótus.
Clímax. Sou eu.
E eu, adorno, desembarco nas
humidades.
Fértil chão da morte.
27/X/2008
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Posted at 01:11 pm by mortir
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se existes porque te escondes num vão de escada; porque te injectas e soletras o abandono pela noite dentro? abraças as pernas e mordes os joelhos num hotel velho dos subúrbios onde restam apenas velhos; exilados; gatos mortos com as entranhas pós-modernas expostas nos beirados. passeias-te pelo pequeno quarto decadente e esperas pelo desembarque dos pescadores, dos desesperados que a morte recusa. preferes receber na tua cama os mortos, os quase-mortos que procuram no teu abraço apenas o calor de um corpo despido. todas as pessoas dizem conhecer o teu corpo, o incêndio, sem terem procurado a morte num copo de vidro partido. sem saberem sequer o teu inaceitável nome. queimo todos os poemas. o que me resta de ti é uma volátil percepção dos passos nocturnos entre a cama e a casa de banho onde choramos a vida perdidas dos amigos mortos pela fome, pela insuficiência das palavras eternas.
Posted at 01:35 pm by mortir
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Arde-me o céu da boca,
o pântano entre os dedos
onde restam pedaços de
ti e de mim quando um
abraço podia fazer sentido
durante a noite; durante a
madrugada. calo-me para
ouvir melhor o corpo
ofegante de tempo mas
o teu abraço já não é sequer
abstracto. acaba um sorriso
no colapso mecânico que
brota entre as costelas.
a vedação está coberta
de sonho, de pombos
com facas no bico e
nenúfares nas patas.
somos animais de luz
a correr depressa demais
contra os olhos para lá da
imaginação possível.
levantamo-nos tarde e
estamos nus mas isso é inconcreto.
apagas-me um cigarro no pescoço
e é o beijo possível,
o corpo inflamado a construir
estruturas aladas no
rosto da impotência.
tenho a dimensão exacta de
uma árvore decepada:
deixo a cabeça cair entre as
tuas pernas e mitifico o silêncio
do fogo enquanto as portadas
encerram a tempestade.
Posted at 06:41 pm by mortir
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está frio lá fora e é principalmente
isso. as calças não me servem e
as pessoas também não.
troco-as com o tempo
a que dou corda num relógio
de madeira que já foi do
meu pai; do meu avô,
ambos mortos de demasiado
chiar mecânico em volta
do crânio. pequenos passos
a subir uma parede de gesso
indicam a fuga das vozes
de dentro de um balde
que flutua
a constante variação
da sombra
numa piscina
com cadáveres no fundo.
Posted at 03:36 pm by mortir
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Os vidros transparentes têm o defeito de ser invisíveis.
intocáveis
Nos que se cobrem de poeira toca-se com as mãos, os dedos, as unhas e pode-se inscrever, reescrever todas as verdades e segredos do mundo.
Posted at 05:02 pm by mortir
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o ventre da poesia estático no tempo, um feto que envelhece dentro do útero enquanto procuramos a fórmula correcta, a forma correcta do poema, da filosofia, da fonologia, da linguagem. os poetas não são os poetas e os homens são mulheres por dentro a chorar e a sonhar com um útero cheio de luz. um deus que nos engravide de palavras intensas, de vontade. tenho vontade de morrer primeiro que tudo, primeiro que tu.
não digas a palavra que falta neste verso, não a procures, não existe, tu não existes mesmo que eu corra o risco de morrer primeiro e viver eternamente.
a poesia sempre inteira no bolso vazio, no estômago, também ele. sim, vazio.
Posted at 02:41 pm by mortir
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Monday, February 20, 2012 |
Podia escrever apenas que as palavras; o poema tem coisas dentro e todos me diriam que sim, ou que as palavras são um poema porque também. talvez por isso, talvez por tantas outras coisas não me fascine ser também poeta. nem mesmo com coisas dentro.
sou as palavras de mim próprio mais que a corrente inexistente dos reconhecidos homens vagos. morrer faz parte de mim sozinho porque também a morte como a vida faz mais sentido se ninguém estiver a ver. a considerar sobre.
escrever para ninguém para sempre.
Posted at 03:36 am by mortir
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Friday, November 11, 2011 |
quero esta corda. este silêncio em que a angústia se enrola no pescoço e me pendura no lugar de um cortinado.
preciso de uma cidade inteira, uma lâmina para dentro do meu peito e, depois, um tumor maligno com que possa conviver para sempre.
preciso de uma cama de madeira fechada com pregos, um armazém vazio com um ringue ao centro e apenas eu contra deus. o eco da solidão a entrar pela caverna de cristo e um gato ferido a morrer aos meus pés. apenas olhos em estilhaços, vidros de uma cidade que decide sucumbir ao vazio. onde quer que estejas plantarás uma flor e enquanto a vires secar supões ter desviado os doces rios que correm dos meus pulsos para dentro da tua boca.
preciso de mim, do que resta dos meus olhos, da vossa boca a arrancar-me os braços para que nunca mais, na ausência, um abraço.
Posted at 09:57 am by mortir
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Friday, September 30, 2011 |
A propósito do silêncio nas avenidas
os troncos das pedras sob a forma de costelas e dentro do mar o absinto preto mal diluído. ainda gatos velhos a incendiar o peito com fósforos vazios na boca. quando era mais novo armazenava corações nas escarpas. deixava-os corroer o céu da boca até chegar ao cérebro e cuspia para dentro de uma garrafa de plástico cortada ao meio onde antes o meu pai guardara o tecido morto das fotografias e a parede do corredor. pessoas desconhecidas a penetrar na caixa de ar das casas antigas com vozes próprias, com pontes próprias através dos dentes. às vezes o crânio a explodir cores secas e uma espécie de sangue a partir a paleta no tapete. o senhorio acabado de morrer. o meu corpo mais pequeno a dobrar as esquinas sucessivas das casas, das camas partidas com homens pequenos abraçados a uma almofada vermelha com vértices de vidro. os olhos dentro de um copo de plástico para diluir as lágrimas que restam a um corpo feito de cinzas. a solidão com arranjos de mármore a definir o espaço físico da morte. os retratos abandonados no chão, nas ruínas de uma casa sem gente que saiba chorar, sem animais que dêem pela falta de uma cama de hospital emprestada para um final feliz.
Posted at 02:09 pm by mortir
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Friday, September 02, 2011 |
os ciganos em volta para que o incêndio subisse o elevador até ao quinto andar mas o desespero do sonho contrafeito a carregar no alarme com as duas mãos, a dilacerar os pulmões numa agonia electrizante. o sorriso indiferente dos vizinhos enquanto a cabeça decepada pelo aço. a poesia debaixo do tapete dos apartamentos e ninguém a precisar dela senão quando alguém se esquece da chave de casa e uma réplica escondida dentro do poema. um aquário de ritmo e silêncio ocasionais. um génio humano capaz de uma chave, mesmo assim, sem saber que a poesia. sim, isso mesmo.
para quê, portanto?
o vidro esverdeado, estilhaçado a plantar o coração de sangue. a explicar a inutilidade a utilidade do meu corpo morto quando a poesia, sem dono, uma perspectiva invisível.
Posted at 03:50 pm by mortir
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